terça-feira, 30 de junho de 2009

A trágica trajetória da estrela que caiu na terra



Texto muito bom do colunista David Hepworth que saiu no Independent.

"Existe uma teoria de que a personalidade das estrelas é congelada no momento em que se tornam famosas. Partindo desse princípio, Michael Jackson nunca teve tempo para desenvolver uma. Aos 8 anos, ele soube que passaria o resto da vida usando sua extraordinária voz como tíquete-refeição de uma família grande e disfuncional. Ele nunca poderia ter uma vida normal.

Quando ele se casou em 1994, tinha que ser com Lisa Marie Presley, a única pessoa na face da Terra que fazia alguma ideia sobre como era sua vida. Quando ele fez suas primeiras apresentações na TV, tentaram apresentá-lo como uma criança doce, mas a voz que cantava Who's Loving You sugeria alguém que já havia provado do mundo adulto.

Ao longo da vida, foi pouco convincente ao encarnar o papel de inocente, fosse se defendendo das acusações de abuso de crianças ou sugerindo como poderíamos obter a paz no mundo.

Hã três Michael Jacksons. O primeiro é o menino travesso de rosto redondo que cantava à frente dos Jackson Five em obras-primas como I Want Vou Back. Há o dançarino que serpenteava os quadris, que se reinventou como uma estrela adulta em 1979 com Off The Wall. E que repetiu o truque com Thriller, em 1982, tornando-se o maior pop star que já existiu, alcançando lugares que artistas brancos como Madonna e os Beatles não conseguiram.

E finalmente há o fugitivo internacional da lei, dos credores, da zombaria, peito cheio de medalhas como um ditador deposto, mantido à distância por superstars que um dia fizeram fila para trabalhar com ele.

O segundo desses três Jacksons é o que as pessoas costumam ver como pop. Quando ele terminou Thriller, o produtor Quincy Jones disse que precisava de mais algumas melodias. Jackson saiu e escreveu Beat It e Billie Jean.

Na versão pop de Jackson, a dança é tão importante como o canto, e o visual é provavelmente mais importante ainda. Jackson foi o primeiro pop star da era da TV. Michael Jackson dominou essa era, apesar da relutância da MTV em mostrar clips de artistas negros.

Eu o vi se apresentar no Madison Square Garden em 1988 em seu auge. O show era kitsch, ofuscante. A tour de Bad marcou o padrão para muitos shows que se seguiram. Para a geração de Justin Timberlake, Britney Spears e Girls Aloud, Jackson é Elvis, os Beatles e James Brown misturados - e 1982, o ano de Thriller, o seu Ano Zero.

Havia rumores de que no prometido retorno na arena O2 ele poderia encontrar meios de reduzir seus deveres como cantor. Ele começara a ensaiar não com os músicos, mas com dançarinos. Ninguém parecia se importar. Apenas queriam que ele aparecesse.

Um velho ditado no meio da música diz que seus mais famosos artistas são mais pobres do que se pensa ou mais ricos do que se pode imaginar. Michael Jackson estava familiarizado com ambas as condições. No auge da carreira, quando ele compunha a maior parte de seu material e vendeu mais discos, deve ter ganho mais dinheiro que qualquer pessoa no meio.

O fato de que Jackson tenha conseguido torrar a maior parte do dinheiro é difícil de acreditar. Ele nunca conseguiria recompor o que gastou, não num momento em que o mercado musical se retraiu e que o seu valor para anunciantes diminuiu por conta de aparições em tribunais. O único caminho que restava aberto para ele era o mais duro, a volta aos palcos.

Da mesma forma como os seus sucessos eram os maiores, seus desastres também não eram modestos. Ele nunca teve a figura de um administrador dos quais artistas dependem para contar-lhes algo próximo da realidade. Tudo o que fazia tinha que ser o mais extremo, o mais caro e, provavelmente, mais capaz de expô-lo ao ridículo.

Não é preciso ser cínico para prever que assim como Elvis morto se tornou mais valioso do que vivo, deve haver advogados já trabalhando para garantir que o pós-vida Michael Jackson seja tão lucrativo quanto sua vida real. Isso não surpreenderia Michael."

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